28 janeiro 2011

Faxina de Ano novo

Embalar o pó em sacos plásticos e entregar as roupas velhas, mal cheirosas e não mais amadas às cestas das casas das ruas nas sextas.
Tocar o limbo e sentir nojo do que já foi. E num sentimento perverso, destruir qualquer fonte de memória das coisas.
Trocar a casa, o quarto, a cozinha, o banheiro, a toalha, o chinelo, a pessoa.
As pessoas então já não servem, não como as são.
Voltar o rosto para o lado oposto da sujeira, para não enxergar o pó e as teias de aranha.
Para não enxergar as latinhas amassadas e tapar o nariz para não sentir o odor dos dias imundos, o odor de lugares por onde passa, ou de lugares por onde passam as outras pessoas.
Eis a capacidade de revidar a vergonha e evitar aquilo que não se quer ver.
E sempre acabar jogando a poeira para baixo do tapete.

2 comentários:

  1. nossa, obrigada!.. fico feliz em saber disso, muito feliz mesmo.
    (e me desculpe pela demora na resposta)

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