Ontem eu senti que era velha. Senti quase morrer. Era como se, respirar não tivesse porque. E tudo foi se apagando, e o todo foi se tornando, tudo mais o qu’eu não enxergava fazia tempo. E ‘tava velha e olhei pro tempo. Ele sorriu dizendo Olá. Como está, dona moça? - Eu vou bem, meu querido. ‘Tava velha e não tinha força pra levantar. Mentira. É, mentira. Olhei torto, outra vez. Não tinha também porque, isso sim! Não tinha era motivo de continuar. Já tudo tinha sido feito, tudo o que eu pudesse fazer até aquele momento chegar. Tudo que pudesse vir ou sair de mim. ‘Tava ali, posto. Posto, pra poder ser qualquer outra coisa em conjunta criação. O mundo não é meu, querido. – Nem meu. - ‘Tá tão bonito, daqui. Tudo indo, sendo. Não pra tudo, não pra todos. Mas Tem um tanto tão bonito. Tudo indo, sendo. Ia o vento, levando passarinho. Mandei um beijo doce, de carinho. Olá, dona moça.Vem dançar? Soprou gostoso. Me soprou pro ar. Estou passando, queridos. – Vem. Até breve...
11 março 2014
10 março 2014
Morrer
Houve um tempo no qual eu achei que deveria conhecer as pessoas, de novo. Ou elas me conhecerem de novo. Conhecerem o novo que virei sendo por estes anos. Ando vindo por aí... Quem sabe a gente não possa se reconhecer, todos em cada um. E conhecer de novo. Já que conhecer é também uma forma de olhar, olhar diferente então. E antes que o sol raiasse a gente estaria feliz por se ver. E antes que o céu pintasse a gente estaria pronto a nascer. Ou morrer. Mas morrer também é uma coisa que a gente inventou. Meu avô sempre disse E quando morrer não existisse... Achei que fosse por desconfiança do momento da passagem. Um amedrontamento pelo novo ou pelo desconhecido, talvez. Fiquei a pensar no dia em que quando morrer não existisse. E pensei torto. Só vi que o tinha pensado assim depois de conseguir enxergar a sua calda. Mas o torto também se avoa, cantou-me o passarinho. E bateu asas. Foi buscar o rango do meio dia. E o torto pensei de novo. Pensei-o e vi que estava a pensar diferente. Inclinei a cabeça para o lado, e vi que não era aquilo. O que era, é que eu deveria pensar no dia quando morrer não existisse. Não no que vem depois.
05 março 2014
Graça
Deixa a presa de lado
o marfim, o pelo, a pele presa
Deixa o peso bater asa
deixa o bicho viver
Arranque-mo-nos cabelos
soltos, dentes esquecidos
arranquem de mim o que não morrer
arranquem só o que for crescer
pra não virar nada, e pó, sem alma
Se vive, tem alma, se mora, também
Deixa morar, ir embora
Deixa ir, deixa ficar
Deixa deixar ser
o marfim, o pelo, a pele presa
Deixa o peso bater asa
deixa o bicho viver
Arranque-mo-nos cabelos
soltos, dentes esquecidos
arranquem de mim o que não morrer
arranquem só o que for crescer
pra não virar nada, e pó, sem alma
Se vive, tem alma, se mora, também
Deixa morar, ir embora
Deixa ir, deixa ficar
Deixa deixar ser
01 março 2014
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