06 fevereiro 2013

Seu rosto no meu




“Vejo seu nome em todos os lugares. Em nenhum deles você está.”
Orlando Pedroso


Deitada na mesma cama ainda posso ouvir seus sons a se fazerem sopro no peito. Embora dessa vez, isso me provoque dor. É um doer tão forte que se torna físico. É um ranger de dentes que destrói os ossos.
Naquela noite fria, e quente, tudo estava abafado. Tudo estava sem rumo. Ou talvez o rumo estivesse sem... sabor, outra vez.
Lembro-me de coisas ditas, sentidas. Lembro-me de você dizer que não havia tido, ou tido pouco, daquilo que mais queria; daquilo que eu mais queria que você tivesse também.
- Você tem, meu velho.
- Tenho não. Cadê?
- Tá aqui. Tá sim.
- Hum... não sei, minha velha. Às vezes não acredito mais, entende?
- Entendo. Mas você tem.

Minhas memórias se confundem numa neblina mental. Ou fumaça, daquele trago.
Quero lhe mostrar coisas para rir, sentir os seus olhos em cima dos meus a me beijar, e sua pele a despir a minha. Tenho piadas a lhe contar, tenho sóis a lhe mostrar num fim de tarde. Tenho tanto e não tenho nada. Falta você aqui, na poltrona ao lado.
Fico com suas expressões estampadas nas minhas, e seus gestos a me coordenarem. Mas falta ainda...
Sua falta me arremete em solidão de palavras, de ânimo e de cor. Aquelas tantas cores dos meus olhos foram embora e ficaram guardadas com você.
As poucas palavras que me restam, ultimamente, não têm um cais para onde se abrigar. Não têm você.

Um comentário:

  1. 'tenho sóis a lhe mostrar num fim de tarde.'

    o sol, misturado
    nas nuvens.
    rosas.
    falava de alguem parado,
    o primeiro texto.
    um sorriso.

    ps: vai entender..

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